Instituto de Estudos sobre o Modernismo

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quinta-feira, 29 de março de 2012

Dia da Poesia - 21 de Março


Parceiros da Amnistia, sede benvindos! "A poesia implica", ouvi dizer a Manuel Alegre que o ouviu a Sophia de Mello Breyner Andresen.O dia 21 de Março, dia da Poesia, foi assinalado pela Amnistia internacional com uma apresentação de poemas. Confiram! (http://www.amnistia-internacional.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=930:a-poesia-nao-discrimina&catid=35:noticias&Itemid=23)

Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
E cloreto de sódio.

António Gedeão

URGENTEMENTE
      É urgente o amor
      É urgente um barco no mar.

      É urgente destruir certas palavras,
      Ódio, solidão e crueldade,
      Alguns lamentos, muitas espadas.

      É urgente inventar alegria,
      Multiplicar os beijos, as searas,
      É urgente descobrir rosas e rios
      E manhãs claras.

      Cai o silêncio nos ombros e a luz
      Impura, até doer.
      É urgente o amor, é urgente permanecer.

     Eugénio de Andrade


 Abelha e vespa

   Matei a vespa
   Poupei a abelha.
   Com que direito
   as julgo?


Teresa Rita Lopes



Acontecido ao ler o pungente artigo do médico Pedro Afonso, no “Público” de 21.6.2010.


Isto não veio nos jornais:
                                            A mão estende-se não para pedir
ou dar esmola
                         mas para exibir um papel já muito segurado
da Segurança Social.
                                       A mão é tosca
                                                                 apalpada por uma vida
de trabalho.
                     A mão está desempregada.
                                                                       O seu corpo também.
Erra de cadeira em cadeira
                                                  de banco de jardim em banco
de jardim.
                   É uma mão desempregada
                                                                 nomeada estatisticamente
entre um milhão de mãos desempregadas.
                                                                               É uma mão
envergonhada do seu ócio.
                                                  Algumas passam uma corda
à volta do pescoço.
                                  Outras batem nos mais fracos.
Outras roubam ou empunham facas.
                                                                    Há mãos que
enlouquecem e apertam gatilhos.
                                                             Outras desistem sobre
as pernas sentadas
                                     inertes como aves mortas.
Que tremenda revoada se todas essas asas levantassem voo!
E aí sim, viriam com certeza nos jornais.

Teresa Rita Lopes