Instituto de Estudos sobre o Modernismo

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quinta-feira, 31 de maio de 2012

A verdadeira história de Eliezer Kamenesky

No blog consagrado a António Quadros encontramos uma crítica ao livro Fernando Pessoa uma Quase Autobiografia de Cavalcanti Filho intitulada A verdadeira história de Eliezer Kamenesky. Apresentamos abaixo o texto publicado no blog http://antonioquadros.blogspot.pt/, para o qual remetemos os leitores que queiram acompanhar as notícias que aí forem sendo publicadas.   


A verdadeira história de Eliezer Kamenesky
 
 
 
Diz Cavalcanti Filho, que a sua grande descoberta ao escrever esta obra, não foram (como seria de supor) as dezenas de novos heterónimos que enumerou, mas sim a verdadeira história por detrás da poesia de Eliezer Kamenesky. Julga-se que Fernando Pessoa, que em 1932 prefaciou o livro de poemas Alma Errante do escritor russo, ajudou também na preparação da publicação desta obra.
Cavalcanti vai mais longe, dir-se-ia, vai longíssimo: segundo o que escreve, Fernando Pessoa não só ajudou Kamenesky a publicar Alma Errante, como lhe escreveu vários poemas (pelo menos 37 em 55), o que o leva, na passada, a dizer que Kamenesky é mais um heterónimo de Pessoa. Haverá salto maior do que este num livro que levou 8 anos a preparar com a ajuda de dois investigadores em Portugal?
De que forma é que Cavalcanti Filho chega a estas conclusões que seriam interessantes, sem dúvida, para todos nós...?, com base no que o sr. Martins, actual proprietário de um antiquário em Lisboa lhe contou, depois de uma conversa, imediatamente a seguir a Cavalcanti lhe comprar os óculos de Fernando Pessoa, mais a bengala que o poeta nunca usou e o resto que ali estava à venda.
Vai daí, que a sua maior descoberta não passa de uma remota hipótese, para não dizer boato, depois de fechar um negócio, e nós ficamos na mesma, a achar que estas 700 e tal páginas não correspondem ao que o autor promete.
Entre outras coisas, a saber: promete os heterónimos (127 + 75...), promete devolver Coelho Pacheco a Pessoa (Coelho Pacheco é Coelho Pacheco, de carne e osso e poeta também, como provou Teresa Rita Lopes), promete Kamenesky da forma que vimos, promete tudo acerca da vida de Pessoa e da sua ascendência (fidalga e judaica?) e da sua homossexualidade, e das suas diopetrias, (verdadeiras, indispensáveis e interessantíssimas revelações) tudo isto a culminar, na ideia de que, afinal, Fernando Pessoa "não tinha imaginação", apesar de todos suspeitarmos que, pelo menos, tinha alguma.
A páginas tantas, quero dizer, a páginas todas, chegamos à conclusão que não saímos do mesmo sítio, mas que foi uma longa caminhada. Saímos ainda com a certeza, ao fecharmos a obra, de que o verdadeiro estudo sobre Pessoa está na mesma, isto é, em curso, mas noutros lugares, não aqui, apesar do
aparato.
 
Diz Cavalcanti Filho, que a sua grande descoberta ao escrever esta obra, não foram (como seria de supor) as dezenas de novos heterónimos que enumerou, mas sim a verdadeira história por detrás da poesia de Eliezer Kamenesky. Julga-se que Fernando Pessoa, que em 1932 prefaciou o livro de poemas Alma Errante do escritor russo, ajudou também na preparação da publicação desta obra.
Cavalcanti vai mais longe, dir-se-ia, vai longíssimo: segundo o que escreve, Fernando Pessoa não só ajudou Kamenesky a publicar Alma Errante, como lhe escreveu vários poemas (pelo menos 37 em 55), o que o leva, na passada, a dizer que Kamenesky é mais um heterónimo de Pessoa. Haverá salto maior do que este num livro que levou 8 anos a preparar com a ajuda de dois investigadores em Portugal?

De que forma é que Cavalcanti Filho chega a estas conclusões que seriam interessantes, sem dúvida, para todos nós...?, com base no que o sr. Martins, actual proprietário de um antiquário em Lisboa lhe contou, depois de uma conversa, imediatamente a seguir a Cavalcanti lhe comprar os óculos de Fernando Pessoa, mais a bengala que o poeta nunca usou e o resto que ali estava à venda.

Vai daí, que a sua maior descoberta não passa de uma remota hipótese, para não dizer boato, depois de fechar um negócio, e nós ficamos na mesma, a achar que estas 700 e tal páginas não correspondem ao que o autor promete.
Entre outras coisas, a saber: promete os heterónimos (127 + 75...), promete devolver Coelho Pacheco a Pessoa (Coelho Pacheco é Coelho Pacheco, de carne e osso e poeta também, como provou Teresa Rita Lopes), promete Kamenesky da forma que vimos, promete tudo acerca da vida de Pessoa e da sua ascendência (fidalga e judaica?) e da sua homossexualidade, e das suas diopetrias, (verdadeiras, indispensáveis e interessantíssimas revelações) tudo isto a culminar, na ideia de que, afinal, Fernando Pessoa "não tinha imaginação", apesar de todos suspeitarmos que, pelo menos, tinha alguma.
A páginas tantas, quero dizer, a páginas todas, chegamos à conclusão que não saímos do mesmo sítio, mas que foi uma longa caminhada. Saímos ainda com a certeza, ao fecharmos a obra, de que o verdadeiro estudo sobre Pessoa está na mesma, isto é, em curso, mas noutros lugares, não aqui, apesar do
aparato.

António Quadros Ferro