Instituto de Estudos sobre o Modernismo

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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Álvaro de Campos - o regresso a Tavira - Carlos Brito


Mão amiga fez-me chegar o livro do I Encontro Internacional Álvaro de Campos, realizado em Tavira nos dias 15 e 16 de Outubro de 2010, em que, com muita pena minha, não pude participar.
O livro é uma edição da Casa Álvaro de Campos, que lhe deu o título sugestivo Álvaro de Campos, o engenheiro de Tavira. Reúne uma dezena e meia de comunicações, na maior parte de investigadoras do Instituto de Estudos sobre o Modernismo (IEMO), além da apresentação da autoria do Presidente da Casa Álvaro de Campos, Carlos Lopes.
Não tenho dúvidas que este livro passa a ser uma peça incontornável para quem quiser tomar conhecimento ou aprofundar o conhecimento da «figura» e da grande poesia do heterónimo que Fernando Pessoa fez «nascer» na cidade do Gilão.
Ao abrir os trabalhos, no 120º aniversário do «nascimento» do autor da Ode Marítima, Teresa Rita Lopes, que dirigiu o Encontro, lançou aos participantes, o desafio de «olhar Campos de um novo ângulo».
A leitura das comunicações mostra que este desafio foi bem sucedido, a começar pelos textos da desafiadora.
Fixou, naturalmente, matéria conhecida, mas indispensável, como o «vivo» retrato de Álvaro de Campos: mais novo (dois anos), mais alto (dois centímetros), mais elegante, desenvolto, endinheirado, vivido e viajado do que o seu criador. Numa palavra, o «retrato melhorado» de Fernando Pessoa.
Merece, contudo, especial realce o que nos diz sobre o papel de Álvaro de Campos no universo pessoano, ou no «drama em gente», na palavra de Pessoa, a partir dos novos poemas conhecidos em 1990 e que ela própria trouxe a público.
Neste espaço reduzido, citemos apenas para seduzir o leitor a sua esplêndida síntese sobre a «imorredoura ficção» do autor de Mensagem, que é afinal Álvaro de Campos:
«Campos assume dramaticamente as duas vidas de Pessoa, a vivida e a sonhada. Representa ser o judeu errante no interior de si próprio, o impenitente solitário, o génio meio louco que Pessoa sofria ser, mas também o viajante cosmopolita com o dinheiro que Pessoa não tinha, escrevendo os seus poemas nos terrasses dos hotéis ou a bordo dos grandes transatlânticos».
É este «algarvio» chamado Álvaro de Campos, a quem a Associação que leva o seu nome já tinha arranjado casa em Tavira, que regressou em força à sua terra natal, faz agora um ano, com a realização do I Encontro Internacional sobre a sua genial poesia, que assim será ainda mais projectada no nosso país e no mundo.

Carlos Brito