Pessimismo e Decadentismo Finisseculares
[Outubro de 2010]
José António Costa Ideias
(FCSH-UNL)
Neste trabalho de Doutoramento em Estudos Portugueses, na especialidade de Estudos Comparatistas, debruçamo-nos sobre um conjunto de práticas narrativas (privilegiando o conto e a narrativa breve), de finais de oitocentos e inícios do século XX - em Portugal e em França - cuja leitura analítica permite melhor compreender um processo de criação literária que parte fundamentalmente da oposição ao Realismo-Naturalismo e que, na gestação híbrida e “imprecisa” de uma narrativa “nova” – na confluência e imbricação de múltiplas estéticas diversificadas – se vai encontrar, largamente, na base do que se considera ser a modernidade estética do século XX. Com efeito, tentamos entender as práticas narrativas de Fialho de Almeida (1857-1911) e de Jean Lorrain (1855-1906) como lugares espectaculares e fantasmáticos de revelação e de denúncia de uma crise ideológica e da sua encenação significante (na recorrente oscilação entre o “documento” e o “fantasma”) que se formaliza numa constante tensão entre o apelo do real e a superação do mesmo - em torno de específicas estratégias discursivas, caracteristicamente finisseculares.
No caso de Fialho, privilegiamos uma leitura de alguns dos seus textos (ainda largamente integráveis na estética naturalista) acentuando a tensão Naturalismo-Decadentismo (os determinismos do meio e da hereditariedade degenerescente e os recorrentes topoi da sensibilidade e do imaginário decadentes que, por via de uma estratégia de representação “deformante” – uma “estética do grotesco” – abre o texto a vastas zonas de um fantástico “físico”, “exterior”), tensão que se nos afigura estruturadora da sua “heterodoxia” estética. Em Jean Lorrain, atentamos na marcada preferência decadente pelos espectáculos do artifício, pelas estéticas da perversão e da surpresa, pela representação e exploração de um fantástico “interior”, da máscara (elemento central do fantástico lorrainiano), num drama espiritual feito de desencontros
do sujeito consigo mesmo e com o o”outro”.
Tentamos, deste modo, caracterizar os diversos “fantásticos” em Fialho e em Lorrain como motor deste tipo de práticas literárias genelogicamente transaccionais que representam (dão a ler) a vivência pessimista de um real agónico que se procura superar. Na abordagem comparativa dos dois autores – no gesto de aproximação relacional - descobrimos a partilha de uma sensibilidade epocal que, experimentando, cada um a seu modo (em convergências e em divergências) tratarão espaços, personagens, tipologias - que constituem aquilo que designamos como os “fantásticos” em ambos os autores. Respostas diversas a uma comum vivência de um tempo histórico crítico que se encontra na base da génese da modernidade estética do século XX, com prolongamentos
no nosso século.
(Dissertação de Doutoramento em Estudos Portugueses – Estudos Comparatistas, apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL) em Outubro de 2010 e defendida publicamente em 2 de Maio de 2011).
Prof. Doutor José António Costa Ideias
Doutorado em Estudos Portugueses, na especialidade de Estudos Comparatistas.
Investigador em Estudos Neo-helénicos e Estudos Literários/Culturais Comparados. Membro do IEMo.
Docente do Ilnova /FCSH-UNL (Grego Moderno -Língua e Cultura). Tradutor literário. Ensaísta.