Instituto de Estudos sobre o Modernismo

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domingo, 7 de agosto de 2011

«Tive em mim milhares de filosofias» - os escritos filosóficos de Fernando Pessoa (Nuno Ribeiro)


«A dimensão pluralista da escrita de Fernando Pessoa não se manifesta apenas na criação de uma multiplicidade de personalidades literárias, no desenvolvimento de uma pluralidade de géneros e no cultivo de uma multiplicidade de estilos. O desenvolvimento de um pensamento filosófico na obra de Fernando Pessoa é também expressão da dimensão pluralista da escrita pessoana. É precisamente isso que lemos no seguinte escrito filosófico deste autor:

Milhares de teorias, grotescas, extraordinárias, profundas, sobre o mundo, sobre o homem, sobre todos os problemas que pertencem à metafísica atravessaram o meu espírito. Tive em mim milhares de filosofias das quais – como se fossem reais – nem mesmo duas concordariam. [1]

No espólio de Pessoa encontra-se uma multiplicidade de fragmentos, esquemas e projectos destinados a futuras obras, cujo início se constata, mas que não chegaram a ser concluídas. Nenhum destes esquemas, projectos e fragmentos do espólio filosófico de Pessoa chegou a ser publicado no decurso da vida do autor. Não é sem razão que no poema Tabacaria de Álvaro de Campos se lê: «Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.» Estas palavras, que Pessoa atribui a Álvaro de Campos, caracterizam bem o estado em que se encontra o espólio filosófico de Pessoa: um conjunto diversificado composto por múltiplas filosofias que foram feitas e ainda continuam, em grande parte, mantidas em segredo, a despeito de no espólio existirem mais de mil documentos catalogados sob a designação de filosofia.»


[1] «Thousands of theories, grotesque, extraordinary, profound, on the world, on man, on all problems that pertain to metaphysics have passed through my mind. I have had in me thousands of philosophies not any two of which — as if they were real — agreed.»: AAVV, Pessoa Inédito (organização Teresa Rita Lopes), Lisboa, Livros Horizonte, 1993, p. 402.


[in Nuno Ribeiro, "«Tive em mim milhares de Filosofias» - questões para a edição dos escritos filosóficos inéditos de Fernando Pessoa", Cultura ENTRE Culturas, nº3, p.192] 
Nuno Ribeiro é graduado em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa e também autor do livro Fernando Pessoa e Nietzsche: O pensamento da pluralidade. Publicou já inúmeros artigos sobre o espólio filosófico de Pessoa, tema central da sua pesquisa, com inéditos pessoanos. Actualmente, prepara a edição dos textos filosóficos de Fernando Pessoa, no âmbito da sua tese de doutoramento. É membro do Instituto de Estudos sobre o Modernismo.




"Neste livro pensam-se com e a partir de Fernando Pessoa alguns dos temas com ele comungados: a experiência da vida como teatro heteronímico; a ficcional (im)possibilidade do(s) eu(s) e do mundo como i-lusão ou jogo criador; o vislumbre do entre-ser, isso que (não) há entre uma coisa e outra, consoante a revista Cultura ENTRE Culturas; estados não conceptuais nem intencionais de consciência; os sentidos múltiplos de Portugal, Lusofonia e Quinto Império, na linha de Uma Visão Armilar do Mundo. Pessoa redescoberto pela filosofia, também em diálogo com António Machado, Jorge Luis Borges e Emil Cioran" - Paulo Borges

O livro será apresentado pelo ensaísta e romancista Miguel Real.


O LIVRO CONTES, FABLES ET AUTRES FICTIONS

O livro Contes, Fables et Autres Fictions, de Fernando Pessoa, foi recentemente publicado, em Paris, pela editora  La Différence. Trata-se de uma colectânea de contos deste autor, editados e prefaciados por Teresa Rita Lopes e traduzidos do português por Parcídio Gonçalves. Houve, de igual modo, uma pontual colaboração minha, convite que aproveito para agradecer publicamente. [1]
Esta obra vem dar a conhecer ao público francês, mas não só, um conjunto de contos de Pessoa, representativos, pela variedade das temáticas, das várias vertentes da sua obra de ficcionista. Atingem-se deste modo dois objectivos: a divulgação além fronteiras da prosa ficcional e a junção, no mesmo local, de narrativas até aqui dispersas e que ganham novos sentidos e coerência, para os leitores, quando lidas lado a lado. É de notar que esta edição veio continuar o trabalho iniciado com a publicação, na mesma editora, do conto iniciático «Le Pèlerin», em 2010[2].
A produção literária do poeta da heteronímia caracteriza-se pelo excesso, como se o desejo a comandar toda a obra fosse a construção de uma literatura inteira. A prosa ficcional é um labirinto de projectos, muitos deles fragmentados e inacabados, mas quase sempre de inegável interesse. Contos, novelas e até duas tentativas de romance (Reacção e Marcos Alves) dão prova de que a escrita da prosa ficcional acompanhou a escrita poética e os numerosos esquemas em que organizava essa prosa comprovam o seu desejo de a publicar. Pouco publicou em vida. Cabe agora aos seus editores a tarefa.
A obra Contes, fables et autres fictions reúne contos já editados, como «A Carta da Corcunda ao Serralheiro», e «Conselhos às mal casadas», por exemplo, e contos inéditos, como «O Gramofone», «Alegações Finais», e «O Eremita da Serra Negra», num total de 21, divididos por seis grupos: Paradoxes, Fables, Horreur et mistère, Compassion, Lettres sans destinataires e Conseils. Esta organização reflecte a própria divisão por temas da prosa ficcional de Pessoa, faltando somente a ficção policial e as histórias fantásticas e de aventuras. 
Paradoxes, título de um primeiro capítulo, reúne aquelas narrativas em que um conceito paradoxal é defendido, através de um discurso de uma lógica irrepreensível, para além dos limites que consideraríamos razoáveis. Encontramos aqui os contos «Maridos», o caso da mulher que matou o marido para estar de bem com a sua consciência e com a igreja, o conto «Alegações Finais», onde um homem defende em tribunal os altos princípios sociológicos em que fundamenta a sua vadiagem consciente e a sua filosofia da vida, o conto «Uma Carta da Argentina», ou a análise de alma do homem que matou a mulher como quem rasga a camisa e que vai morrer como quem tira o colarinho, e o conto «Memórias de um Ladrão», que defende o roubo como uma das belas artes. As fábulas do capítulo seguinte, pequenos contos com uma moral final inesperada, reúnem «A Rosa de Seda» e «A Origem do Conto do Vigário», textos publicados em vida do seu autor. Nesta secção há ainda «O Papagaio», história de um homem espezinhado pela mulher e pela filha desta e que tudo atura até ao dia em que lhe venderam a papagaio e por isso vai buscar a espingarda (moral: Nações imperiais e dominadoras, expansivas, cuidado sempre com o papagaio!”). Na secção de horror e mistério encontramos «Um Jantar Muito Original», «O Desconhecido» e «No Jardim de Epitecto», narrativas já editadas, mas pouco conhecidas ainda. «Maria José» e «O Gramofone», histórias de doença e miséria humana surgem a seguir, sob o título geral Compassion. Pessoa apreciava o formato epistolar para algumas das suas ficções e essas cartas sem destinatário estão coligidas numa secção da obra. Conseils, o grupo de narrativas onde um Mestre transmite conselhos ou regras de vida, apresenta, entre outros, o texto inédito «O Eremita da Serra Negra», onde encontramos a grande regra, tão difícil de acatar: «Vive tu a tua vida”, disse; “não sejas vivido por ela».
A riqueza da prosa pessoana fica bem documentada nesta edição organizada e prefaciada pela professora Teresa Rita Lopes, a quem temos de agradecer o já longo trabalho de divulgação da obra de Fernando Pessoa.
                                                                                  Ana Maria Freitas


[1]Foram decifrados por mim os contos «Maridos», «Alegações Finais», «Memórias de um Ladrão», «O Papagaio», «O Gramofone» e «O Eremita da Serra Negra», incluídos neste livro.

[2] Fernando Pessoa, Le Pèlerin (2010). Edição de Ana Maria Feitas e Teresa Rita Lopes, prefácio de Teresa Rita Lopes, tradução de Parcídio Gonçalves. Paris: La Différence



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Pessoa em edição francesa

Acaba de ser lançado na renomada editora francesa La Différence, o livro ContesFables et autres fictions uma edição de Teresa Rita Lopes. Neste livro o leitor poderá ter acesso a contos inéditos de Fernando Pessoa, como é o caso do "Eremita da Serra Negra", entre outros. Esse trabalho é fruto da pesquisa no espólio da Professora Teresa Rita Lopes. Vale a pena conferir

 

Quarta-feira, 13 de Julho de 2011


Pessoa e a Filosofia - novas edições

A Verbo, uma importante colecção de obras de filósofos portugueses, acaba de ser relançada com os livros de ensaístas e investigadores portugueses. No primeiro livro da colecção, Teatro da Vacuidade ou impossibilidade de ser eu - estudos e ensaios pessoanos, o filósofo e ensaista Paulo Borges, apresenta uma série de reflexões profundas e complexas sobre a obra de Fernando Pessoa. O Professor Paulo Borges além de filósofo e ensaísta é também investigador do espólio pessoano. Apresentou recentemente, na Casa Fernando Pessoa, um conto inédito do espólio do autor português.  O segundo é Fernando Pessoa e Nietzsche: O pensamento da pluralidade da autoria de Nuno Ribeiro. Neste livro, o ensaísta português apresenta ao público as possíveis conexões entre o pensamento e a escrita de Pessoa e Nietzsche, revelando importantes e inéditos aspectos do espólio pessoano. Nuno Ribeiro, graduado em filosofia pela Universidade Nova de Lisboa (premiado com a bolsa de mérito desta Universidade no ano de 2005) vem investigando ao longo de anos o espólio filosófico de Fernando Pessoa e  prepara a tão esperada edição dos Textos Filosóficos de Fernando Pessoa. Ambos os livros são acompanhados de imagens do espólio de Fernando Pessoa e proporcionam ao público uma análise filosófica da obra de Fernando Pessoa e das múltiplas relações que existem entre o pensamento pessoano e as mais diversas problemáticas filosóficas.


           

 


Anúncio Importante - Convite

A Professora e investigadora Teresa Rita Lopes apresentará na próxima 3ª, dia 12 de Julho, no programa Câmara Clara, RTP 2, a seguir às Notícias das 22hrs, a reedição do Guia de Lisboa, de Pessoa, "O que o turista deve ver", descoberta do IEMO, como ela oportunamente explicará.
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Livro do Desassossego de Fernando Pessoa - 9ª edição



Acaba de sair a 9ª edição do Livro do Desassossego de Fernando Pessoa realizada pelo investigador Richard Zenith. Esta edição presenteia o leitor com novidades relativamente a anteriores edições. O interessado que deseje adquiri-la poderá agora fazê-lo. 


Poesia de Alberto Caeiro - 3ª edição revista e aumentada



Os muitos admiradores de Alberto Caeiro podem ter acesso a uma nova edição da sua poesia que acaba de ser relançada pela Assírio & Alvim. Os responsáveis pela terceira edição do livro. A Poesia de Alberto Caeiro são os iemistas da primeira hora Fernando Cabral Martins e Richard Zenith.

 O Doutor Fernando Cabral Martins e o Doutor Richard Zenith presenteiam o leitor com dois ensaios esclarecedores e muito  originais no final do livro.